Ciúmes entre Irmãos

19-05-2013 13:24

Ciúmes entre Irmãos

Quando pensamos sobre o comportamento entre irmãos, coisas como ciúme, inveja, rivalidade, competição, etc., pensamos sempre como comportamentos anormais e negativos. O ciúme é visto como algo totalmente condenável e proibido entre irmãos, principalmente, em relação ao irmão mais velho, quando nasce o segundo filho.
Muitos pais chegam mesmo a dizer ao filho, que o ciúme é feio, que não deve nunca existir em relação ao irmãozinho e que esse veio para brincar com ele, ser seu amigo e companheiro nas brincadeiras. Isso é verdade, mas existe também uma outra verdade que nunca dizemos, mas sabemos. Esse irmão veio para dividir com ele o amor da mãe, do pai, dividir a casa, às vezes o quarto, os brinquedos, a atenção dos parentes, etc.

A criança percebe essa verdade no momento em que a mãe chega da maternidade com o bebê no colo. O colo já começa a ser dividido desde então. O ciúme, nesse caso, é esperado e, portanto, normal.

O anormal seria que esse irmão mais velho não sentisse rivalidade nenhuma por esse bebê que chega e o tratasse amigavelmente. Caso isso acontecesse, poderíamos dizer que essa atitude seria estranha e preocupante, pois seria uma atitude que não faz parte da índole da criança, e que, obviamente, ela deveria demonstrar esse ciúme alguns momentos.

Tanto o ciúme quanto a inveja, quando intensos, são fonte de grande ansiedade.

O ciúme na criança, quando não é demasiado forte, é característica normal da personalidade. Envolve rivalidade sadia; e quando surge no relacionamento com irmãos, é um treino preparatório da fase competitiva, que mais tarde ela precisará enfrentar no ambiente social e profissional.

As manifestações mais comuns do ciúme são a hostilidade e o ódio. A hostilidade pode oscilar entre leves manifestações de implicância e pequenas agressões até uma completa intolerância para suportar a presença do irmão; onde o desejo é o de “eliminar” o objeto odiado.

O ciúme pode também manifestar-se de maneira indireta: a criança experimenta ansiedades, dirigindo sua hostilidade abertamente contra o irmão. Pode voltá-la contra si mesma, ou contra o ambiente.

Pode haver também uma regressão: manha, revolta, agressão contra os pais, inapetência, fracasso nos estudos ou recusa em crescer (independência). Quando essa fase se estende muito, pode ameaçar o equilíbrio da personalidade infantil, levando a distúrbios, como: sinais de ambivalência e indecisão, dificuldade em tarefas que exijam capacidade de abstração ou chegar a conclusões com clareza.

Como característica do comportamento desse irmão ciumento, pode surgir o oposicionismo que é dirigido contra os pais.

Por exemplo: os pais gostariam que ele fosse bom aluno, fosse disciplinado, etc., e a criança reage ao contrário, opondo-se a essa expectativa para assim atrair a atenção tão desejada dos pais.

Existem também os mecanismos passivos: a criança interioriza sua hostilidade, mas é vítima de maior carga ansiosa. Aparecem os tiques nervosos e a fala “tate-bi-tate”, em idade que a linguagem já tenha sido estabilizada e a criança já venha se expressando com facilidade.

Volta a molhar a cama ou a querer que lhe dê comida na boca.

Enfim, comporta-se como em etapas anteriores de seu desenvolvimento.

Outra forma passiva, é quando a criança fica apática, apagada, preguiçosa, sem entusiasmo.

Pode bloquear-se afetivamente, sufocando junto com a inveja e o ciúme, o amor.

Deixa de ter reações amorosas com familiares e irmãos.

Desde que a afetividade e a inteligência estão intimamente ligadas e interdependentes, a produção e o rendimento dessa criança costuma ser precário.
Outro mecanismo passivo, é a própria desvalorização. A criança acha-se inferior e, portanto, se anula. Essa atitude determina reações depressivas que são auto-destrutivas.
Deve-se nesse momento canalizar essa agressividade adequadamente, valorizando seus sucessos numa escolinha de natação, ou outra atividade qualquer onde a criança se destaque com desenvoltura. Ela deve ser estimulada a fazer novas amizades e a freqüentar outros lugares diferentes daqueles do irmão. As comparações obviamente devem ser evitadas. Inevitavelmente elas ocorrerão, mas, espera-se, vindas de fora.

Dizer que um dos irmãos é mais inteligente, mais caprichoso, mais carinhoso, etc. não servirá de estímulo ao outro irmão; muito pelo contrário, só fará com que ele se sinta humilhado e inferiorizado. Mais tarde é provável que se torne num adulto que se julgue pouco inteligente ou pouco afetuoso, bloqueando-se nessas áreas; o que não é incomum. Com freqüência encontramos adultos ou adolescentes que se julgam feios, incapazes ou pouco criativos porque sempre foram comparados ao irmão. Comparações desse tipo minam traços do caráter da criança e podam seu desenvolvimento.Quando falamos sobre as comparações feitas pelos pais, temos de levar igualmente em consideração as preferências, que são também nocivas ao desenvolvimento emocional da criança.

Lembramos então da história bíblica de Isaque e Rebeca com seus filhos Esaú e Jacó. A Bíblia diz claramente que Rebeca amava mais a Jacó. Por causa dessa preferência, muitas mudanças e tragédias aconteceram nessa família, provocando desentendimentos e ódio entre os irmãos. Em Genesis 27:41, lemos: “Passou Esaú a odiar a Jacó por causa da bênção com que seu pai o tinha abençoado e disse consigo: Vêm próximos os dias de luto por meu pai, então matarei a Jacó, meu irmão.

Podemos pensar em como seria essa história, caso não houvesse explicitamente essa preferência de Raquel por um dos filhos. Naturalmente, o final disso tudo houve reconciliação, mas só depois de muito sofrimento e angústia. Notamos que Jacó passa sua vida com medo desse irmão, pois, em Genesis 32:7 diz que quando soube que Esaú se aproximava com 400 homens, ele teve medo e se perturbou. Mais adiante, no verso 11, ele ora a Deus dizendo: “Livra-me das mãos de meu irmão Esaú, porque eu o temo, para que não venha ele matar-me“.

A situação de “preferência” muitas vezes acontece em situações de doença, onde o filho doente recebe mais atenção, mais cuidado, mais mimo, etc.

Isso pode tornar-se, então, numa super proteção. Essa pode implicar em uma dificuldade no desenvolvimento da capacidade de independência da criança. O mimo é vivenciado por ela, cedo ou tarde, como uma frustração.

A criança que tenha sido super protegida, desenvolve uma tendência a ter reações infantis quando adulto. Tem dificuldade em adaptar-se à realidade e volta-se para si mesma. Muitas vezes, não consegue desenvolver a capacidade para suportar frustrações e regride. Outro mecanismo, é a negação da realidade, i.e., tende a ignorar e a fugir daquilo que é desagradável. Esses pais educam a criança para si, mas não para a sociedade, pois são crianças que se sentem desajustadas em grupo.

O dever, a responsabilidade, a aceitação de outras crianças, a renúncia em não ser o centro das atenções, são dificuldades comuns encontradas por ela. Esse filho torna-se sensível e vulnerável, ofendendo-se com coisas simples.

Uma situação em que esse filho se sinta desconsiderado ou fracassado, pode levar a uma depressão por longo tempo. Algumas das características dessa pessoa na vida adulta, seriam: a desconfiança, impaciência, suscetibilidade, inconstância e reações afetivas inadequadas.

Como podem ser bem solucionadas? Uma solução, está no que se refere à personalidade dos filhos.

Os pais devem identificar e realçar as características positivas de cada um. As habilidades e talentos devem ser sempre valorizados e nunca comparados. Quando um dos filhos é mais carinhoso, mais amoroso com os pais, geralmente os conquista com mais facilidade. Os pais se “derramam” na resposta desse afeto e tendem a comparar tal procedimento com a frieza e distância do outro filho.

Essa característica, quando é observada por familiares e amigos, em vez de estimular essa afetividade, só ajuda a reprimi-la. A habilidade e o equilíbrio de elogios e estímulos é uma excelente alavanca para fortalecer e ajudar os filhos a suportarem suas diferenças.

                                                                                                                                                                     

                                                                                                                                                                       ( Marilena Henriques Teixeira Netto)